A corrida faz-se sempre a olhar para a frente ou para os lados ou para cima. É muito difícil correr a olhar para trás, embora não impossível. Um atelier é uma pista de aceleração de pensamentos e movimentos que tentam acompanhar de forma arrítmica resistências diversas. É ainda uma pista de travagem, tantas vezes hesitante, com interrupções abruptas e aparatosas. Nesta simultaneidade de movimentos aparentemente opostos, existe um espaço que aponta caminhos e posições a tomar, um campo com muitas regras e sem regras nenhumas, um campo para as possibilidades todas.

 

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Telas sentadas em cadeiras. Casacos pousados em cadeiras. Paredes pintadas. Nenhum objecto da vida é renegado do processo artístico. Os pés das cadeiras no chão de azulejo são também parte deste jogo maior.

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Tabuleiros de xadrez, desenhos, arcos, pinturas, tecidos. As camadas múltiplas de realidades e matérias são evidentes no estúdio da Luísa. Quando entramos no seu atelier passamos também a ser uma peça do jogo, que olha e caminha pelo tabuleiro.

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Debaixo, atrás, deitado, por cima, através, pendurado, colocado, colado. Dinâmicas que se enterlaçam numa prática infinita de sobreposições. Antes de tudo, o fazer. Movimentos paralelos que apontam em todas as direções. Todo o processo é transparente na disposição das diferentes etapas.

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A Luísa, que nos acompanha e guia neste mundo que ela cria e materializa. Explica-nos que se trata de um jogo, mas não de um jogo só, mas de todos os jogos. A linguagem da partida e da chegada, e de todo o caminho que somos convidados a percorrer. Rapidamente, de preferência, com aquela energia brilhante que a Luísa nos oferece e com a qual ela nos envolve. Tal energia não encontra melhor espaço para habitar do que o próprio Sol.

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As referências que contaminam o processo acompanham o próprio trabalho. São colocadas a par deste, num ciclo contínuo de apropriação e referenciação. Tudo é disposto de uma forma aparentemente intuitiva, mas, na sua essência, organizada e intencional.

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As cores organizadas por nomes de alimentos, as tintas dispostas por tonalidade. Tudo tem uma lógica inerente, ao mesmo tempo que parte de uma relação muito íntima com a esfera maior da vida. Não será esta compulsão pela organização um método para agilizar um processo que deve permanecer livre e solto? Um método que permite saltar obstáculos e fintar adversários. Se há uma corrida, a Luísa certamente chegará primeiro.

 

Entre correrias, e a propósito de uma colaboração com a Revista Dose, abri o jogo com a Maria Miguel von Hafe e a Margarida Oliveira, que deram um salto ao meu atelier no Sol. A Maria, sempre tão atenta e disponível, não só tirou estas bonitas fotografias analógicas, como lhes ofereceu estas legendas, já um ano depois. Jogar é um lugar sem tempo onde é sempre possível voltar.

 

Maria Miguel von Hafe – mariavonhafe.com
Revista Dose #4 – dose.pt
Luísa Abreu – cargocollective.com

 

Nota Biográfica
Luísa Abreu

Luísa Abreu (1988, Amarante) vive e trabalha no Porto. Integra o colectivo Rua do Sol com quem gere o espaço independente Galeria do Sol.

É co-fundadora do Núcleo de Investigação PARALAXE, um projecto de criação e investigação  em arte, estando a decorrer a primeira edição no IGUP (V. N. Gaia) com apoio da dgArtes.

Integra o recente número #4 da Revista Dose.

Expõe regularmente o seu trabalho desde 2009. Em 2020 apresenta as exposições individuais, A Corrida, na Galeria Sala 117 (Porto) e Unlucky Hand, na Extéril (Porto). Participou nas residências artísticas Apneia, Maus Hábitos/ Cooperativa Árvore (Porto); Av. Espaço Montepio, antigo banco Montepio (Porto) e Residência Cruzada, Maus Hábitos/ Les Artistes en Résidence (Clermont-Ferrand). Em 2016 foi seleccionada para o Jovens Criadores do CPAI. Licenciada em 2011 pela FBAUP em Artes Plásticas Multimédia, terminou o último ano ao abrigo do programa Erasmus na HfBKD em Dresden, Alemanha, tendo concluído o Mestrado em Artes Plásticas pela ESAD CR. É representada pela Galeria sala117.

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